sexta-feira, 3 de julho de 2009

E QUANTO A TODO MAL PERPETRADO EM NOME DA RELIGIÃO?

Muitos ateus usam de argumentos para a sua não crença em Deus, justifcando seus argumentos através da pergunta: Se Deus existe, como explicar todo o mal perpetrado em nome da religião? Francis Collins, em seu livro A Linguagem de Deus, responde assim:

“Se o caso a favor da crença em Deus fosse totalmente hermético (fechado), o mundo estaria cheio de praticantes de uma única fé. Imagine, porém, este mundo se a oportunidade de escolher livremente uma crença tivesse sido removida em virtude da certeza das evidências. Que desinteressante seria, não?
E quanto a todo o mal perpetrado em nome da religião?
Um obstáculo importante para muitos indivíduos determinados é a evidência obrigatória, ao longo da história, dos terríveis atos realizados em nome da religião. Isso se aplica a praticamente todas as fés em algum ponto, até as que argumentam ter a compaixão e a não-violência entre seus princípios centrais. Diante de exemplos rudes de abuso de poder, violência e hipocrisia, como alguém pode unir-se aos princípios de uma fé promovida por tamanhos disseminadores do mal?
Para esse dilema existem duas respostas. Em primeiro lugar, saiba que muitas coisas maravilhosas também foram realizadas em nome da religião. A Igreja muitas vezes desempenhou uma função crucial no apoio à justiça e à benevolência. A segunda resposta, porém, nos traz de volta à Lei Moral, ao fato de que todos nós, seres humanos, fracassamos alguma vez. A Igreja se faz com pessoas arruinadas. A água pura e límpida da verdade espiritual é colocada em recipientes enferrujados, e os posteriores fracassos da Igreja ao longo dos séculos não devem ser projetados sobre a fé, como se a água fosse o problema. Não é de estranhar que aqueles que acessam a verdade e o apelo da fé espiritual geralmente acham impossível imaginar-se aceitando uma religião por causa do comportamento de determinada igreja. Ao expressar hostilidade à Igreja Católica francesa, no alvorecer da Revolução Francesa, Voltaire escreveu: ‘Alguém se surpreende de que haja ateus no mundo, quando a Igreja se porta de modo tão abominável?’ Não é difícil identificar exemplos em que a Igreja executou ações opostas aos princípios pelos quais sua fé deveria ter dado respaldo.
As Bem-aventuranças ditas por Cristo no Sermão da Montanha foram ignoradas pela Igreja cristã, que realizou violentas Cruzadas na Idade Média e persistiu com uma série de inquisições em seguida.
E não é apenas a violência que mancha a verdade da fé religiosa. Exemplos frequentes de hipocrisia crassa entre líderes religiosos, tornadas ainda mais visíveis pelo poder dos meios de comunicação, fazem muitos céticos concluírem que não há verdade ou bondade objetivas a encontrar na religião. Talvez ainda mais traiçoeiro e disseminado seja o surgimento, em várias igrejas, de uma fé secular espiritualmente morta, que salta dos aspectos sacros da crença tradicional, apresentando uma versão da vida espiritual relacionada a eventos e/ou tradições sociais, e não com a busca por Deus.
Causa, então, estranheza que alguns críticos apontem a religião como uma força negativa na sociedade ou, nas palavras de Karl Marx, "o ópio das massas"? Mas sejamos cuidadosos nesse ponto. As grandes experiências marxistas na União Soviética e na China de Mao, que visavam estabelecer sociedades explicitamente baseadas no ateísmo, comprovaram-se capazes de cometer pelo menos a mesma quantidade de, ou até mais, massacres de pessoas e abuso explícito de poder que cometeu o pior dos regimes de épocas recentes. Na verdade, ao negar a existência de qualquer autoridade superior, o ateísmo tem o potencial recém-descoberto de libertar totalmente os humanos de qualquer responsabilidade de não oprimir uns aos outros. Assim, embora a longa história da opressão e da hipocrisia religiosas seja muitíssimo grave, o pesquisador mais sincero deve enxergar além do comportamento de humanos falhos, a fim de encontrar a verdade. Você condenaria um carvalho se sua madeira tivesse sido usada para fazer aríetes? Culparia o ar por permitir a transmissão de mentiras através dele? Não. Uma avaliação completa da verdade da fé depende de um exame na água pura e cristalina, não nos recipientes enferrujados”. (p. 42-50)

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