quinta-feira, 15 de setembro de 2011

APARÊNCIAS

Vejo um homem de olhar bravo. Meio carrancudo. Por vezes, um olhar triste. Um homem que não demonstra muitos sentimentos, e que sente certa dificuldade de abraçar. Alguns o julgam, dizendo que é frio. Apenas olham as aparências.
Mas este homem carrega marcas. Duras marcas que a vida deixou nele.
A começar pela infância... veio de outro país, fugindo da fome ou da guerra.
Levou tempo para que se acostumasse nesse país, para que conseguisse construir sua vida.
Quando jovem, se casou. Tiveram alguns filhos. Dois desses filhos, mais tarde, vieram a falecer. Sua esposa também morreu. Casou-se novamente, e depois de alguns anos, a segunda esposa também morreu.
Ele pode parecer um homem duro, mas a vida foi dura com ele. Só ele sabe das dores que ele carrega. Daquilo que ele leva consigo durante muitos anos.
Eu, no lugar dele, já estaria desejando a morte. Já teria perdido a vontade de viver.

Esse homem é meu avô. Durante muito tempo apenas o julguei, e não queria compreendê-lo. Sempre foi mais fácil dizer que ele era chato do que tentar entender porque eu o achava tão diferente.
Hoje eu o admiro. Admiro sua garra. Se eu estivesse no lugar dele, talvez já teria desistido de viver há muito tempo. E ele continua firme, levando a vida. No seu jeito, à sua maneira, no seu mundo.

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